Abrir os olhos


Guardo em mim todos os sonhos do mundo. Sonhos engessados, mórbidos, flagelados. Farei com vocês o que o mundo clama. Mostrarei o quanto é descartável as aspirações de melhoria de vida, de um futuro próspero, da paz mundial. Eu sou a guerra e venho trazer a desgraça! Clamo a morte, a dor, as doenças, os pesadelos. A esterilidade do homem se amplifica na desgraça e eles rogam ao Deus pai todo poderoso na primeira, segunda e terceira vez. Cansam de pedir e não ter retorno e chamam por mim, baixinho, choram com medo! Ó vermes impiedosos! A raça humana é toda igual, podre! Vomitam os pulsos no desespero, voam de arranha-céus ou injetam, cheiram, fumam para aliviar a dor. Que alívio se a dor não passa e só aumenta? Já disse, eu sou a guerra e vim trazer a desgraça! Carrego o cheiro da saudade. Sim, o cheiro da saudade sádica, que devasta os sonhos fantasiosos por onde passa. Porque os sonhos são projeções e a projeção não é a realidade!


--- Texto apresentado no Festival Recifense de Literatura 2010, na rua da moeda.

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