Afetividade

A cozinha é identidade, discurso. Apropriação. Não é a origem que define, é a expressão cultural adquirida que gera o "meu", o "nosso". Essa é a formação do paladar.
A gastronomia é como uma língua, se comunica, extrapola horizontes, se expressa. É na cozinha que se materializa o afeto, que se reforça a união familiar. A cozinha é que nem coração de avó. A nostalgia se reflete na comida da vovó, dessa forma de concretiza o grito negativo à palavra 'imaterial' doada como referência alusiva à gastronomia. Nos pratos dessa avó, dessa mãe, recheado de sabores e saberes, se cria identidade. A lembrança é única, profunda, caracterizada apenas pela saudade do sabor, do cheiro, da festa, da reunião em família aos domingos, dos tachos de doce, da fruta fresca do pé, das brincadeiras infantis na areia, do bolo saindo do forno... A lembrança é tanta que, se voltássemos no tempo, seria possível acharmos que algo havia mudado, pois no quadro de recordações tudo era mais perfeito, mais colorido, o doce era mais doce e a comida mais gostosa. Tudo já está materializado, fixado, concretizado e nada mais devolve nem retira e nem despreza o apego saudosista.